01 fev
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Quando a Liderança Desaba – iPL semanal número 43


O desabamento dos edifícios no centro do Rio de Janeiro – causado, possivelmente, por irresponsáveis reformas nas vigas dessas construções – pode ser um retrato de um perverso processo, capaz de levar abaixo uma organização quando as estruturas centrais não forem preservadas. “No âmbito organizacional, o líder precisa saber o que pode e o que não deve ser mudado e zelar pela preservação das vigas mestras de uma determinada obra”, disse o Program Director do iPL, Marcos Thiele. “O papel da liderança é fundamental para conservar este núcleo e explorar novas formas”.  É preciso manter os pilares, mas também dar espaço às transformações necessárias.

Thiele comparou estruturas de prédios à ideologia central das organizações. “Empresas com estruturas flexíveis resistem mais e se acomodam melhor às mudanças ao longo do tempo, assim como aquelas construções levantadas para resistir a terremotos. A integridade do líder está em seu DNA. Se ele segue uma diretriz que não é a da organização, os abalos na estrutura podem ser irreparáveis”, compara. “Construções com estruturas muito rígidas, que não permitem quaisquer variações ou pequenos abalos, conseguem se segurar intactas por mais tempo. No entanto, quando caem, não sobra nada do que havia antes.” Liderança requer, além de diretrizes, flexibilidade para acompanhar os movimentos do mercado e variações internas de uma empresa.

Pesquisa desenvolvida em 18 corporações norte-americanas com desempenho excepcional revelou que, para que uma organização consiga se perpetuar, é necessário preservar sua ideologia central – ao mesmo tempo em que se adaptam estratégia, competências, objetivos, política administrativas e a estrutura organizacional, de acordo com o contexto e as necessidades dos novos tempos. O estudo incluiu companhias como GE, Johnson & Johnson, Motorola, Sony e Wal-Mart.

No lado oposto da liderança bem-sucedida, podemos citar a Enron, que protagonizou uma das maiores falências da história dos Estados Unidos, e a Kodak, que acaba de pedir concordata. “A Enron não faliu porque conta do roubo de US$ 43 milhões pelo seu diretor executivo. Mas, porque, sua liderança falhou na realização da ideologia central, que era a priorizar seus clientes”, disse o Program Director. Em relação à Kodak, os líderes da companhia perderam a capacidade de acompanhar a velocidade das inovações das câmeras digitais das principais concorrentes

No livro “Built to Last: Successful Habits of Visionary Companies” os autores James Collins e Jerry Porras examinam as empresas se mantêm operacionais por mais de 50 anos, e que têm apresentado desempenho excepcional em relação à concorrência. Entre as características comuns, nenhuma dessas empresas têm como objetivo principal ganhar dinheiro e todas mantiveram sua ideologia central do longo dos anos. Para os autores, é a consistência dos princípios que dá a direção da liderança.

No entanto, a ideologia central precisa vir acompanhada de uma dose de flexibilidade. Se repelir as transformações que a conjuntura aponta, a companhia se tornará defasada e perderá a competitividade. O cenário é altamente mutável e, para ser bem-sucedido, o líder deve estar sempre à frente deste movimento. “Não se pode confundir ideologia central com cultura, estratégia, políticas e práticas. Ao longo do tempo, esses conceitos devem progredir”, explicou Thiele. Para Collins e Porras, “preservar a ideologia central e estimular o progresso” é a essência de uma companhia visionária.

É notório o fato de que a ideologia central de organizações bem-sucedidas já nasceram com elas, bem antes dessas organizações alcançarem  performance excepcional. No entanto, isso não é o bastante. A analogia é suficiente: para sobreviver a um terremoto e a oscilações sísmicas, um prédio deve ter forte vigas, e o restante da estrutura com flexibilidade para se reestruturar e sobreviver aos abalos. Se uma organização vai encontrar desafios de um mundo em constante mudanças, seu líder deve estar preparado para mudar tudo o que for preciso, exceto as crenças maiores que a movem ao longo da vida.

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