Yes, he really can? Crise, Obama e Liderança Inteligente – iPL semanal número 18
A crise vivida pelo governo de Barack Obama traz à tona a incapacidade do atual presidente dos EUA ser o grande articulador de forças da política interna norte-americana. “Bons líderes usam o poder de maneira sábia”, declarou Warren Bennis, precursor dos estudos de liderança e conselheiro de quatro presidentes norte-americanos. “Poder é a capacidade de traduzir intenção em realidade e sustentá-la”. Isso envolve habilidades importantes para líderes empresariais e políticos: o uso estratégico da diplomacia, persuasão, construção de alianças, capacidade de enxergar a big picture, e legitimidade social e política. Somente assim os líderes conseguem o que a literatura chama de ambidestria: trazer resultados rápidos no curto prazo e, ao mesmo tempo, construir um contexto organizacional adequado para um longo prazo sólido.
Postergar a votação sobre o endividamento dos Estados Unidos para o último minuto foi um sério erro de timing de Obama, para o diretor-presidente do Centro de Liderança Pública – CLP, Luiz Felipe D’Ávila. “Por um lado ele conseguiu evitar um desastre financeiro imediato. No entanto, no âmbito do jogo político, ele perdeu a grande chance de uma vitória estrutural. Em última análise, Obama virou refém de sua própria votação e mostrou fraqueza para liderar.”
Para D’Ávila, a postura do presidente norte-americano, de ter cedido à oposição desde o início, sinalizou aos Republicanos que, se estes alongassem o quanto possível as negociações, o governo acabaria cedendo novamente. “Como líder, Obama deve construir uma agenda política a ser seguida, alinhando-a com a oposição”, ele completou. “Ainda que o presidente consiga pequenas vitórias no curto prazo, isso pode gerar grandes derrotas para os Estados Unidos no longo prazo.”
O foco no curto prazo possibilita resultados rápidos, porém rasos, do ponto de vista da liderança. “Temos visto o enfrentamento de problemas complexos com lideranças medíocres. O longo prazo quase sempre é esquecido, e dificilmente as agendas de curto e longo prazo estão alinhadas, com o planejamento de mudanças culturais e de comportamento para se promover uma liderança transformadora”, argumentou o diretor-presidente do CLP. “Tanto no ambiente público como no âmbito privado, é preciso ter a habilidade política de combinar hard e soft power em uma estratégia vencedora.”
D’Ávila referiu-se ao Smart Power, conceito desenvolvido por Joseph Nye, professor de Harvard e autor do livro The Powers to Lead. Nye argumenta que os líderes mais efetivos são aqueles capazes de combinar soft e hard power em proporções que variam de acordo com cada situação. O especialista parte do princípio de que o poder manifesta-se com a capacidade de conduzir comportamentos e resultados, além de definir agendas e temas relevantes.
Sobre o Hard Power, Nye identifica-o como a habilidade de usar carrots and sticks das forças econômicas e coercitivas para fazer com que o outro siga sua vontade. Soft Power, nas palavras de Nye, é a habilidade para se conseguir o que se quer por meio da atração, em vez da coerção. O Smart Power requer a adoção de medidas estratégicas inteligentes que combinam de forma harmoniosa, e muita vezes sutil, alguns elementos do Hard Power com formas de atuação características do Soft Power, conseguindo resultados mais eficazes. Devem-se dosar as formas de atuação de acordo com as necessidades concretas: o contexto, as características culturais, o sistema político vigente e as influências econômicas.
A construção de uma estratégia efetiva de Smart Power envolve cinco passos: definir claramente os objetivos políticos, elencar corretamente os recursos de poder disponíveis em diferentes contextos, avaliar os recursos e preferências dos outros atores envolvidos na agenda, escolher uma estratégia adequada de poder (coerção ou cooptação) e analisar a probabilidade de sucesso do curso de ação escolhido.
Liderança pode existir em qualquer nível, com ou sem autoridade formal. Líderes inteligentes precisam tanto de soft como de hard skills e o estilo de liderança mais apropriado depende do contexto em que se vive. Há situações autocráticas e outras democráticas, condições normais e críticas, e crises novas e rotineiras. Um bom diagnóstico da necessidade (ou não) de mudança é essencial para a inteligência contextual. Resta observar como Obama usará a Liderança Inteligente para se tornar um líder vencedor e transformar o poderoso slogan de sua campanha em capacidade de realização.